Sobre a guerra (houve quem lhe tivesse chamado
coerção estratégica), já disse tudo o que tinha a dizer (
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7). Mais que isto, para mim, será espectáculo para o qual não vou contribuir. É inútil, desgastante, promíscuo até, manter esta discussão. O mundo está-se nas tintas para o que a Carla pensa e muito mais para o que eu penso. Mas não posso deixar de lhe responder, encerrando o diálogo, sob pena de pensarem que quero fugir à discussão. A Carla afirma:
«A actos de guerra responde-se com actos de guerra. Por isso o conceito de desproporcionalidade é mera poeira hipócrita que anda por aí a circular.» O que é um acto de guerra? Destruir pontes (55 em 10 dias), aeroportos (3), depósitos de combustível (17) e bombas de gasolina (12), ambulâncias, ontem Paulo Camacho falava de uma fábrica de papel higiénico, já havia sido mencionada uma outra de produtos lácteos, acessos balneares, hospitais (3), matar civis (400?), bombardear um posto dos observadores das Nações Unidas, provocando a morte a quatro funcionários
onusianos, etc...
«Entre os civis mortos estavam 13 estrangeiros», por certo cúmplices ou mesmo guerrilheiros do Hezbollah. Tudo isto se justifica, portanto, pelo fim: acabar com os porcos fundamentalistas que há muito espalham o terror na região. Pensemos agora que aquilo que vale para uns, valerá para todos. Pela sua perspectiva o ataque ao World Trade Center deverá ser interpretado como apenas mais um acto de guerra. Como tal, perfeitamente compreensível no contexto de uma guerra que se perpetua há décadas.
«A actos de guerra responde-se com actos de guerra.» Não é assim? Já agora, acabemos com tudo o que seja "crime de guerra". Que tudo seja permitido, até arrancar olhos, extirpar crianças inocentes, condenar populações inteiras ao isolamento e à miséria. Abu Ghraib? Um claro e inequívoco acto de guerra. Terrorismo ou acto de guerra? Qual a diferença? Eu apenas acredito que nem todos os meios são
legitimáveis pelos fins em si. Por isso mesmo considero os “guerreiros santos” do Hezbollah e de outras organizações similares uns filhos da puta que só merecem desaparecer da face da terra. Sabe porquê? Porque acho que os tipos que entraram
«na rua Bem Yehuda, cheia de outros jovens judeus no fim do Sabbath, e detonaram granadas que tinham presas à cintura» (tradução de Carla Hilário Quevedo) não estavam apenas a praticar um acto de guerra. Assim como julgo que destruir pontes (55 em 10 dias), aeroportos (3), depósitos de combustível (17) e bombas de gasolina (12), ambulâncias, ontem Paulo Camacho falava de uma fábrica de papel higiénico, já se tinha mencionado uma outra de produtos lácteos, acessos balneares, hospitais (3), matar civis (400?), bombardear um posto dos observadores das Nações Unidas, provocando a morte a quatro funcionários onusianos, etc., não são apenas actos de guerra. Por estas razões
«o conceito de desproporcionalidade» não pode, nem deve, ser considerado
«mera poeira hipócrita», sob pena de tudo passar a valer. Curiosamente, a própria Carla não escapa, com o seu discurso, à (i)
lógica do terror do Hezbollah:
«se fosse útil e de facto explodisse, tenho a dizer-lhe que iria. E como boa bomba, cairia em cima dos refúgios do Hezbollah». É esta a retórica (
ilógica) dos “guerreiros santos”. Para terminar, gostava de chamar a atenção para
este post de Luís Carmelo. É sintomático da inutilidade desta discussão, pela demagogia e retórica fáceis, de tipo maniqueísta (a norte e a sul), que viciam logo à partida qualquer debate. Cito:
«Há dois anos, a propósito do genocídio de Darfur, onde estava a acutilância feérica dos que hoje quase silenciam o Hezbollah e diabolizam o que designam por “desproporção”?» A esta pergunta tipo Baptista Bastos, tentei responder com objectividade:: «Ainda há bem pouco tempo, quando Portugal jogava, o zé dormia e o Carmelo escrevia sobre o tom dos
weblogs, eu deixei isto no meu canto:
http://antologiadoesquecimento.blogspot.com/2006/06/calma-gentes.html. Mas como é óbvio, os que contam são os que nos convêm». Quem conta para Carmelo? O
Causa Nossa. Porquê? Porque é
desproporcional na indignação que manifesta:
«Compare-se o sintomático Causa Nossa, há dois anos, quanto ao caso de Darfur, e agora no modo como encaram o papel de Israel.» Que dizer de tanta argúcia argumentativa? Talvez que
«o mal reside no temperamento dogmático, e não nas características especiais do dogma adoptado».