O debate entre os candidatos à CML foi muito esclarecedor, pelo que, em minha opinião, correu francamente bem. António Costa, bastante bronzeado, foi honrado pela iluminação da sala. Sentiu-se tão confortável que começou logo ali, em pleno debate, a distribuir trabalho. O primeiro funcionário a contratar, já o sabemos, será a ex-vereadora-ex-PP-ex-CDS Maria José Nogueira Pinto, que partilha o nome com o candidato do PNR e é da mesma família frutícola de outros candidatos. Já que estamos com a mão na cozinha, falemos de José Pinto Coelho. Apareceu na televisão, o que de si é já um ganho incalculável. Falou muito em tachos, criando, desse modo, um efeito bastante apetitoso se relacionarmos o termo com o apelido do candidato. O tom de voz é algo apagado para um combatente nacionalista, contrastando com o tom de Manuel Monteiro, muito mais enfático e menos parcimonioso. «Privados, privados, privados!» - exclamou, enquanto tracejava na direcção do seu ex-companheiro Telmo Correia a crítica da noite: «O CDS de hoje não é aquele que foi o meu CDS». De Fafe a Faro, toda a gente entendeu que é disso mesmo que Lisboa precisa, ou seja, de um CDS esclarecido e reencontrado consigo próprio. Mas Telmo Correia, ah maganão, não se deixou ficar, aproveitou a deixa de estilo e acusou o candidato socialista de pretender trazer o actual Governo para dentro da Câmara. São tantos que teimo não virem a caber todos. Eis o que Telmo não explicou, eis o que Telmo nunca explicará, pois Telmo é da escola política daqueles para quem tudo se explica por nada ser explicável. Se não entendem, entendam-se: «Sábado: É o homem que assina tudo, como dizia Abel Pinheiro nas escutas do caso Portucale? Telmo: Não era isso que dizia Abel Pinheiro, e tenho alguma dificuldade em comentar uma escuta que está sob segredo de justiça. Quem entender violar o segredo de justiça fá-lo-á e será responsável por isso. Sou testemunha no processo e não faço tenção de violar o segredo de justiça». Depois de ter invocado três vezes o segredo de justiça para explicar o não explicável, Telmo lá aquiesce e manda o segredo de justiça às ortigas: «Não sou manipulável em nenhuma circunstância. Manipular é usar uma escuta truncada para criar uma determinada ideia…» Entendemos e ficamos mais descansados. Adiante. Mais curiosa ainda é a agilidade de Carmona Rodrigues para passar um paninho quente por tudo quanto foi causado pela sua incompetência. Carmona fala como se Rodrigues nunca tivesse existido, Rodrigues faz eco de Carmona como se este fosse a terceira geração dos autarcas portugueses. Há qualquer coisa de esquizóide nesta pose de quem fala como se não existisse, como se não houvesse um tempo anterior àquele em que se fala. Este facto remete-me também para Helena Roseta, que se tem apresentado como uma espécie de beata, diria mesmo uma santa na terra, um anjo, cujo intento é única e exclusivamente Lisboa e os lisboetas. Ela quer a união, ela pede que demos as mãos em nome de uma causa, que nos abracemos, que sejamos irmãos, que comunguemos. Perante tanta oração, fica a dúvida do milagre: são rosetas, senhores, são rosetas. Os bons corações nunca deram bons políticos. De defeito semelhante padecerá o destemido José Sá Fernandes, que gaguejando menos do que é costume, julga ter a seu favor a imagem de inconveniente. Os camaradas do Bloco já deviam ter percebido que em Portugal essa imagem não é lá muito conveniente. Pelo que talvez não convenha muito ao candidato inconveniente continuar a fazer alarde da sua inconveniência. Isso torna-o pouco conveniente com aquilo que mais lhe convém: a Câmara. Aprenda-se com Ruben de Carvalho, arreigado aos ideais comunistas, à palavra de ordem, inconveniente quando é conveniente sê-lo, preciso e meticuloso nos diagnósticos, exaltando-se quando e apenas quando absolutamente necessário para levar a sua avante. Foi claro nas ideias para a cidade: «Honestidade, honestidade e honestidade!» Mais um bocadinho e rimava com os privados do Dr. Monteiro. O que choca é que em tantos anos de Câmara a honestidade de Ruben para pouco tenha servido, ao contrário da honestidade de Sá Fernandes que já serviu, pelo menos, para umas intercalares. Também honesto parece ser Fernando Negrão. Tem um nome que, decididamente, não o favorece. É esse o seu único problema, já que a ausência de ideias substanciais, a péssima campanha e as gaffes recorrentes são um pormenor secundário. É honesto na forma como aponta o dedo, mas esquece-se que, ao apontar um dedo, há pelo menos três que ficam para si voltados. É o candidato do partido que apoiou os principais responsáveis por Lisboa estar de pantanas. Mais pormenores de somenos importância. Valha-nos o fado de Câmara Pereira, que ao menos faz-nos rir (estranho, tratando-se de fado). Este homem que está contra tudo o que seja multa – ouvi eu com estes que a terra há-de comer - tem a seu favor a heteronomia. Tanto pode aparecer como Nuno da Câmara Pereira, Mico da Câmara Pereira ou Gonçalo da Câmara Pereira que ninguém nota a diferença. Porém, anda enganado. Quer a Câmara mas devia dedicar-se à cultura… das pereiras. Já o maior problema de Garcia Pereira é precisamente o apelido, que pode levar as pessoas a confundirem-no com o candidato fadista. Em boa verdade, ele é apenas um candidato fatalista. É, será sempre, apenas e só por isso, o meu candidato, apesar de eu não votar em Lisboa. Há ainda o candidato do MPT. Deixou bem claro ser apenas e só o candidato do MPT. Tudo dito.